segunda-feira, 28 de junho de 2010

1º passo

De entre todas as desvarias, todas as nódoas negras dentro e fora, guardo os sorrisos. Guardo quem eras. Ensinaste-me o que fazer com o amor, como fazê-lo, como mostrá-lo e como senti-lo. Tiraste-o de mim, às vezes pensei que sem ti nunca seria nada. O meu valor não ia ser o mesmo. Mostraste-me que não valia a pena a dor,
mostraste-me que valia depois. E assim brincaste comigo, assim cresci sempre contigo, maltratada, humilhada, com mil e uma consequências. Onde quer que estejas se conseguires ler o que me vai dentro, o que está aqui e o que eu não consigo escrever não quero que sintas remorsos, podes dobrar o aço, fazer o que queres o que não queres, o que podes, não podes, deves, não deves. Ainda falo de ti no presente, é muito cedo ainda. Espero que entendas que tudo o que fiz para te afastar de mim foi por não querer fazer-me mais mal. Nunca te quis magoar, nunca pensei que as coisas que nos aconteceram pudessem acontecer a ninguém. E no entanto tenho mágoa, tenho arrependimentos, tenho medo ainda que me possas aparecer aqui. Quero muito enterrar-te longe na minha memória mas não tem como. Lembro-me dos filmes que me mostraste, das músicas que dizíamos 'nossas' das inúmeras tentativas de voltar ao que era dantes. Lembro-me quando completamos um ano. Naquele restaurante na ribeira, nem tu nem eu parávamos de rir dos 'doutores' engravatados e nós, sem dúvida os mais novos dali, eu de vestidinho de menina tu de gravata dos 101 dálmatas a esconder as azeitonas e os coentros debaixo da mesa. Daquela vez em que embirraste que íamos para o mar custasse o que custasse em pleno dezembro e ficámos os dois em casa de molho 3 dias constipados até aos ossos. Quando aparecias no meu trabalho para comprar 'um maço de marlboro amarelo por favor' como se não me conhecesses e passavas um papelzinho com o dinheiro a combinar uma hora para eu convenientemente ir à casa-de-banho. Quando mesmo com um teste de psicologia no dia seguinte arrastaste o diogo a minha casa para me furar o nariz e depois embirraste com o piercing e corremos a cidade toda à procura de uma estrela. Quando meteste na cabeça que querias um cão e corremos os canis de norte a sul só para te decidires por um hamster. Gostavas muito de cores, quem não te conhecia até pensava que eras exuberante, tentei demover-te umas quantas vezes de usares aquele casaco azul eléctrico e tu rias-te de mim e dizias que era para parecermos o arco-íris juntos. Lembras-te do primeiro filme de terror que vimos? do freddy e depois cantaste a musica semanas inteiras só para eu fazer cara de nojo. A tua mãe queria sempre almoçar ou jantar ao sábado, tu odiavasss salmão e a D. helena teimava em que estavas muito magro precisavas de peixes gordos, passavas-me debaixo da mesa e eu guardava no bolso. Pegavas-me sempre ao colo, era pequenina para ti. Dizias que eu ia ser sempre o teu nenuco de dentes afastados, nunca entendi porquê a do nenuco mas pegou, sabias que o miguel e o mattheus ainda me chamam nuca? Encontrei-os no porto este ano a estacionar perto da minha faculdade. Espero que não me culpes do que te fiz passar no ultimo ano, mas não tinha alternativa. Precisava de me proteger de ti, das tuas obsessões e do mal que me fazias. Tinha medo de ti, não saía de casa quando sabia que aqui estavas e contava a tua história aos meus amigos que viram as marcas que me deixaste. Por mais que tentasse acho que todos sempre me consideraram insana, passar por tudo aquilo e deixar estar, e acreditar nas coisas horríveis que me dizias... Acho que muitos ainda não entendem o porquê de eu ser como sou. Isso tenho a certeza que tu entendias, foste tu que me fizeste assim, complexa, complicada, desequilibrada. Mas se alguma vez te interessar saber, eu melhorei. Ainda luto diariamente com a minha imagem, ainda tenho as marcas nos pulsos, às vezes mais, às vezes menos, mas agora sou vista como uma mulher. Há dias que nem eu me reconheço ao espelho! Ostento uma falsa confiança para esconder a fragilidade. Colo os pedaços e espero que ninguém entenda. Isolei-me, já não estou como era, agora sou como tu eras, tenho os meus amigos selectos e não sou muito aberta nem com eles. Aprendi contigo a ser dissimulada nas emoções. A ser efusiva e calma. Muito do que sou devo-te a ti. Ainda estou a aprender a lidar comigo, um dia hei-de conseguir perdoar-me por te ter deixado fazer-me como me fizeste. Lembras-te desta música? Nunca pensei que fosse tão literal a tua interpretação.

" Not so long ago
We both felt love became a word
No more than that
With sex that felt like wings without a bird

The only thing that we both love
Is in the cradle that we rock
Six hands, six feet, but just one beat
The ticking of the clock

I always heard I could get hurt
(I knew that from the start)
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart

Solid wood will rot
If you don't keep it from the rain
We were surprised when we found out
That love feels just like pain

I always heard I could get hurt
I knew that from the start
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart
Break my face, my back, my arms, my neck
But please don't break my heart "